5mo

Yra Ymã

Onde o Juruá(Branco/Eu/Você) vê a perda de tempo na falta de coragem para girar as manivelas da sua produção, os Guarani enxergam seu trabalho como forma de apreciar o tempo, assim como seu descanso. O tempo de plantio, de pesca, de caça e de colheita, o tempo de fazer e o tempo de aproveitar. Como ciclo das forças da natureza - na perspectiva daqui - a Lua mingua e cresce de novo, o Sol se afasta até voltar pra perto, as Constelações viajam até retornarem no horizonte para cruzar o céu mais uma vez e assim o tempo retorna, o ciclo recomeça, na passagem de dias, semanas e meses até que se repetem de novo, nos mesmos lugares, na mesma forma.

Quem não volta somos nós, nosso tempo não retorna, nossos ossos não são os mesmos desde a última vez, mas ainda seguram quem somos, durante o tempo que temos para fazer de si o nosso próprio tempo, fazendo jus ao nosso uso concebendo os processos com atenção para nos poupar, para saber quando plantar, quando produzir, acessar e colher, aproveitar os frutos, traçar novas redes, descansar e partilhar para recomeçar de outra forma.

E agora Yra Ymã, época do ano que a Ema surge no céu, representa o caos inicial, o céu primeiro, sendo seco e vazio, responsável por gestar e brotar o desdobramento do tempo e da vida. Solstício de Inverno, a noite mais escura, onde a chama se acende para aquecer e iluminar o poder da vontade de permanência, de manter o que se têm e guardar o espaço.

Separo o que é meu da parte do todo, aqui eu deixo o que não me pertence pra não me acompanhar ao recontar a trajetória que virá, para perceber com atenção ao que está vindo, poder louvar outras novas colheitas.

Eu colho o tempo que dediquei quando plantei essa semente e por isso agradeço.